Case #39 - A forte florista


Quando solicitei voluntários, a Fran destacou-se. Já tinha reparado nela, tinha sido a primeira a colocar uma questão. Em vez de lhe colocar questões, comecei com os pontos de ligação que já tinha com ela - coisas que reconheci, e as minhas respostas aos aspetos da minha experiência sobre ela. Ela disse que era frequentemente a primeira a voluntariar-se, e eu partilhei que isso acontecia também comigo. Isto criou imediatamente um terreno entre nós. Perguntei-lhe em que é que trabalhava - era florista, mas disse que queria abrir o seu próprio negócio nesta área, e que estava determinada a ser bem sucedida. Eu podia ver que ela era uma jovem mulher, brilhante e confiante, e disse-lhe que, quando ouvi a forma como ela partilhou os seus planos, acreditei nela. Novamente, isto é construir um campo relacional de trabalho, e reconhecer o que se destaca nos termos do processo. Perguntei-lhe qual era a sua flor favorita (para descobrir o que era figurativo para ela). Ela respondeu o girassol. Declarei o quanto gostava deles, e o que eu gostava neles. Ela disse que gostava de uma variedade de coisas - que eram alegres, luminosos, fortes, altos... A forma como ela disse 'fortes' foi enfatizada, então perguntei-lhe de que forma ela se sentia forte. Ela explicou que, de facto, era forte e estava contente com essa qualidade, pensando que quando se sentia irritada podia ser destrutiva. Então convidei-a para uma 'luta livre terapêutica', onde nos colocávamos em lados opostos e empurravamos as mãos um ao outro. Isto foi divertido, e permitiu-lhe sentir a força completa da sua agressividade de forma segura, em jogo e contato. A experimentação também mostrou que a sua irritabilidade e agressividade podiam ser positivas, e não apenas negativas. Isto proporcionou mais terreno entre nós. Eu salientei que as mulheres fortes não são sempre apreciadas na sociedade, enumerando alguns potenciais fatores contextuais para ver como ela reagia a isso. Ela disse que por vezes era demasiado forte, e que ultrapassava as pessoas. Eu pedi-lhe um exemplo, e ela falou sobre um taxista que não queria utilizar o metrónomo e com quem ela gritou. Eu podia compreender a sua reação, e salientei que eu poderia ter feito o mesmo. Mesmo assim, ela disse que se sentia triste por ter perdido o controlo. Então perguntei-lhe sobre o seu contexto, a sua família, e quem na sua família era fora do controlo. Ela disse que o seu pai expressava frequentemente emoções fortes enquanto ela crescia. Mas em vez de se assustar com isso, ela tornou-se também assim...e por isso não gostava de estar fora do controlo da sua irritabilidade, mesmo que isso pudesse ser razoável no caso do taxista. Eu podia compreender isso e sugerir que, agora que ela tinha crescido, talvez ela pudesse escolher quais das qualidades do seu pai ela queria manter, e quais não queria. Então, coloquei uma cadeira em frente a ela a representar o seu pai, e pedi-lhe que 'falasse diretamente para ele' sobre isto, ajudando-a a articular as frases que tornavam claro o que ela apreciava e queria manter, e o que ela queria deixar, não seguindo as suas pegadas. Ela sentiu-se aliviada depois disto, e mais capaz de se sentir confortável com a agressividade como uma força através da qual ela podia fazer escolhas, em vez de algo com o qual se sentia mal ou que a desafiava. Isto é o que designamos 'integração' e ocorre, não apenas em termos de introspeção cognitiva mas especialmente somática, mas como uma alteração baseada no corpo.

 Posted by  Steve Vinay Gunther