Case #41 - O cliente pertuebador


A Francis estava a tossir, de tal forma que realmente me perturbava. Ela veio trabalhar e eu evoquei isso - eu disse 'bem, certamente conseguiu chamar a minha atenção com a tosse'. Ela disse 'sim, eu tendo a perturbar as pessoas'. Eu respondi 'bem, perturbou-me com a sua tosse'. Então explorei o 'perturbar'. Expliquei que também havia formas positivas de perturbar as pessoas - como por exemplo, os comediantes. Os revolucionários. E pessoas que perturbam o estatuto social de um grupo - também são precisas. Eu queria enquadrar o 'perturbar' de outras formas, para ampliar o sentido das ecolhas disponíveis para ela. Convidei-a a 'perturbar' alguns elementos do grupo. Ela, brincando, beliscou as bochechas de uma pessoa e deitou-se sobre os pés de outra. Estas foram atitudes iluminadas e divertidas que ela desempenhou espontaneamente, que lhe deram imediatamente uma diferente forma de estar a 'perturbar'. Perguntei-lhe sobre o seu contexto - quem era perturbador na sua família. Ela disse que tinha descoberto recentemente que a sua mãe estava a ter um caso. À medida que eu aprendia mais, parecia que o seu pai tinha tinho diversos casos ao longo dos anos. Isto era obviamente algo que a desassossegava, mas eu não queria muito meter-me no que os seus pais estavam a fazer. Ela disse que se sentia culpada...como se, de certa forma, o caso da sua mãe fosse culpa sua porque tinha saído de casa. Eu disse 'bem, não lhe compete a si assumir a responsabilidade pelas atitudes da sua mãe'. Eu queria trazer o foco de volta para ela. Então disse, 'está a olhar-me com um foco muito intenso - tem a minha atenção neste momento'. Ela comentou que algo faltou no seu crescimento - os seus pais estavam tão ocupados com os seus próprios problemas e conflitos que não lhe deram muita atenção. Quando ela tinha atenção, era frequentemente reativa. Ela falou sobre querer atenção carinhosa, e não atenção crítica. Eu salientei que, para uma criança, a atenção negativa é melhor do que a falta de atenção...ao fazer isto, de certa forma, estava a reconhecer a sua escolha em ser 'perturbadora' na sua vida adulta para obter atenção, mesmo que o tipo de atenção não fosse o melhor. Pedi-lhe que reparasse, no presente, como era ter a minha atenção e a atenção do grupo. Ela notava pequenas alterações na atenção do grupo - algumas pessoas estavam distraídas. Podia ver como ela estava sintonizada nas dinâmicas atencionais dirigidas do grupo. Então eu disse, 'ok, eu quero que esteja realmente presente com a atenção que lhe estou a dar neste momento'. Sentá-mo-nos ali por um tempo. Notei que me senti muito liso...normalmente as coisas ocorrem-me, experimentações criativas, introspeções, perceções. Eu sentia-me completamente plano com ela, como uma paisagem completamente vazia. Então declarei, e ela concordou, que tinha este feedback do seu marido e dos outros...e que também se sentia lisa. Reconheci este espaço partilhado num momento 'eu-tu'. Frequentemente, estes momentos de intimidade e ligação são entendidos como repletos de profundos sentimentos. Mas a partilha aqui estava despida. Eu disse 'é difícil para mim, parece que perdi toda a minha ciatividade, não estou habituado a isso'. Ela deflagrou - gostou da palavra criatividade. Ela disse, 'eu quero fazer algo perturbante e atrever-me perante si'. Eu convidei-a a seguir em frente. Ela beijou-me na bochecha. 'Ah' disse eu, 'um esguicho de cor contra a paisagem!' Foi um momento de contato luminoso, no contexto de um momento de profunda partilha. Como resultado, houve uma profunda mudança nela, algo tinha sido libertado. Esta foi a consequência do processo não linear de seguir a corrente da consciência à medida que ela emerge em nós - o tema da atenção e perturbação. No Gestaltismo não trabalhamos muito de forma focada no objetivo, de forma linear, mas mais como um rio a correr, deslocando-nos com a corrente, imergindo-nos na fenomenologia do cliente, ou no que pode ser chamado instrospeção encarnada.

 Posted by  Steve Vinay Gunther