Case #40 - Precisar de apoio, precisar de independência


A Martha tinha lágrimas nos olhos, e estava a morder o lábio. Eu observei isso, e ela comentou que estava a conter os seus sentimentos. Convidei-a a respirar, a estar presente... e as lágrimas aumentaram. Ela contou a sua história, uma longa e penosa história, acompanhada de muitas lágrimas. O seu pai trabalhava numa outra cidade. Ela, a mãe e a irmã tiveram de mudar para uma pequena cidade enquanto ele estava fora, e tiveram de ficar com os avós maternos. Mas, o avó tratava-as mal a todas...se as crianças faziam muito barulho, ele ameaçava tirá-las de casa e inclusivamente colocou as suas malas do lado de fora ocasionalmente. Antes disso, a sua irmã tinha vivido com os avós e, sempre que ela e a mãe os iam visitar, os avós apontavam falhas na Martha e colocavam-na contra a sua irmã. Finalmente a sua mãe saiu de casa, para uma casa própria. Mas ela era uma bonita mulher e, frequentemente, o homem com quem ela trabalhava na loja vinha até à casa, procurando por ela. Ela mandava-o embora, mas uma vez permitiu que ele entrasse, e começaram a ter um caso. A Martha estava sempre assustada quando ele vinha lá a casa. Quando o caso foi descoberto, a sua mãe foi envergonhada publicamente na pequena comunidade em que viviam. E a Martha foi envergonhada pelas crianças na escola. Depois, o seu pai voltou, os avós bateram na mãe...os traumas continuaram. Esta era uma história repleta de dor e sofrimento. Enquanto a contava, ela procurou a minha mão e apertou com força. Sentá-mo-nos assim enquanto ela desabafava. Há diferentes tipos de histórias na psicoterapia. Algumas são antigas, mortas e repetitivas, servindo apenas para reforçar o desamparo e talvez ganhar simpatia. Estas histórias têm de ser trazidas para o presente, trazidas à vida através de experimentações corporais e da respiração através das emoções. Mas esta história estava viva, estava sentada ali, a aguardar por ser contada há 30 anos e, nas circunstâncias adequadas, sair, flutuar, libertar-se, integrar-se no caminho. Assim que ela acalmou eu larguei a sua mão, mantendo-me junto dela. A Martha disse que havia luz ao longo do caminho. A intimidade que tinha com a mãe e irmã, mesmo quando apenas tinham pão e feijões para comer. E os namorados que teve, especialmente o primeiro, eram carinhosos e atenciosos com ela pelos problemas da sua família. Este apoio continuou com o seu marido, de quem era muito próxima, e eles tiveram uma relação muito apaixonada. Tudo bom. Exceto após 20 anos, com o crescimento do filho, ela não estava mais apaixonada por aquele lugar que tinha sido o seu abrigo quando ela saiu daquela cena familiar dolorosa. Ela procurava uma nova direção, crescimento pessoal, e uma mudança de carreira. Mas o seu marido segurava a sua mão, como sempre. A relação tinha funcionado porque ela precisava de apoio e ele dava. Mas agora, ela precisava de independência, e ele ainda se mantinha na mesma. Eu salientei o paralelismo com a sessão. Ela precisou de mim ao atravessar o trauma. Mas, no final, eu pude largar a sua mão, ela apenas precisava de mim junto a ela e não mais a segurá-la. Eu delineei-lhe os tipos de declarações que ela podia fazer ao marido, ajudando-o a compreender e ser capaz de lidar com o facto de ela precisar de seguir um rumo mais independente, e talvez ajudá-lo a lidar com as suas inseguranças sobre isso. Por sua vez, isso dar-lhe-ia o apoio que ela precisava agora da parte dele - estar confortável com ela ir e vir. Chegando a esta parte da sessão, ela estava capaz de ver como devia proceder com maturidade e diferenciação, lidar com a alteração da dinâmica da relação, e com a sua posição na sua vida.

 Posted by  Steve Vinay Gunther