Case #47 - O fim de uma relação é um novo começo
Este casal já se debatia há algum tempo. A primeira coisa que Rhonda disse na sessão foi - ´Os meus pais divorciaram-se, e eu prometi a mim mesma que nunca faria isso a uma família que eu tiviesse criado´. Estava extremamente angustiada. Brian pôs o braço em seu redor, mas ela afastou-se. Pedi-lhe que se deslocasse para o lado oposto ao dela, de modo a que se pudessem ver um ao outro. A segunda coisa que ela disse foi, ´Já chega, não consigo continuar com isto. Esta relação acabou para mim.´ Brian estava chocado. Disse-lhe que a tinha ouvido dizer isso muitas vezes anteriormente, e que tinha tratado arduamente de fazer mudanças nos meses anteriores. Começou a explicar-se... eu detive-o. Explicar é visto como uma forma de evitar ´o que existe, o que é, o que está´, na perspectiva Gestalt. Pedi-lhe que lhe dissesse simplesmente o que sentia. Depois de bastante apoio, ele disse-lhe que se sentia abandonado e em pânico, e começou a chorar. Ela deixou-se estar sentada por algum tempo sem dizer nada. Quando eu a incitei, disse que estava em branco; emocionalmente era demasiado, e encontrava-se fora da sua capacidade de tomar consciência. Em Gestalt, não insistimos com alguém quando surge este ponto. Trabalhei então com ele - explicando-lhe que ela não estava disponível, pelo que não valia a pena continuar a insistir; deixei-me estar com ele e os seus sentimentos, e ajudei-o a estar consigo mesmo nesse lugar. Reconheci como ele se sentia, quão terrível era para ele estar nesta situação e como era duro que ela tivesse ´fechado a porta´ e não estivesse disponível de todo para ele neste momento de angústia e necessidade. Foi então que Rhonda olhou para ele, com lágrimas nos olhos. Disse-lhe - ´Isto aconteceu com a tua mãe e a tua ex-mulher, eu nunca quis fazer-te o mesmo´. Ele foi-se abaixo e retirou-se. Encoragei-o a estar presente, que visse que ela agora estava a chorar, que se encontrava disponível, e que reconhecesse a conexão nesse momento. Foi muito difícil para ele. Ele disse-lhe que se sentia culpado, que sentia que tinha falhado e começou a falar de como queria continuar a tentar. Mas eu parei-o, pois não havia da parte dela espaço emocional para qualquer tipo de conversa em relação ao futuro. Perguntei então se ela podia assimilar aquilo que ele tinha dito. Ela estava sem expressão - então sugeri que ela dissesse que não tinha espaço para assimilar isso - esta era afirmação emocionalmente verdadeira da parte dela. Tal foi muito duro para ele ouvir. Apoiei-o em poder devolver-lhe isso. A sua resposta foi notar a zanga, ressentimento e tristeza que ela via nos seus olhos. Então pedi ao Brian que nomeasse de que é que essas emoções se tratavam para ele. Ela ouviu, mas a dada altura disse, ´Não quero continuar, sinto-me péssima pois sei o difícil que isto é para ti.´ Brian fechou-se, retirou-se do contacto e eu podia ver que não estava disponível. Sugeri-lhe que lhe dissesse que não era capaz de a ouvir nesse momento, mas até isso foi duro para ele. Pedi-lhe então a ela que falasse comigo. Esta é uma técnica em terapia de casal - dar apoio a uma pessoa, se a outra não está disponível, para aliviar a pressão e assim o outro pode ser apenas testemunha. Rhonda disse que queria dar-lhe muito tempo para aceitar esta situação, e eu disse-lhe que achava que ele provavelmente nunca a aceitaria. Ele amava-a, e não era provável que desistisse. Isso foi um pouco surpreendente para ela. Levei-a então a revelar mais dos seus sentimentos e afirmações pessoais. Foi então que Brian voltou a estar disponível, e ela disse-lhe que se sentia muito culpada e que lamentava muito. Choraram juntos. Ele queria aproximar-se, mas ela disse - ´Não, por favor mantém a distância´. Indaguei sobre isso, e ela respondeu que já não o amava. Desafiei esta afirmação - é baseada numa ideia falaciosa do amor como puramente um sentimento. Em vez disso pedi-lhe que pudesse transformar a frase numa afirmação pessoal. Disse então, ´Eu desliguei os meus sentimentos´. Esta foi uma afirmação chave, uma vez que assim passa a ser a respeito de acção, escolha e volição. Mas este não era o momento para trabalhar com isso - o simples reconhecimento de tal seria então uma entrada para futuras possibilidades de escolha. Pedi-lhe a ele que reconhecesse o que tinha ouvido, e que lhe falasse dos seus sentimentos. Conseguiu fazê-lo, e ambos choraram. No entanto, algo tinha mudado. No meio do impossível - e quem sabe, do futuro - eles tinham conseguido ter algum contacto profundo e autêntico. Ambos tinham chegado a um lugar para lá das suas capacidades, mas com o meu apoio àquele que ainda se mantinha a bordo nessa altura conseguiram continuar e estar juntos nesse lugar de perda e desespero. O desfecho derradeiro era desconhecido. Mas o foco em Gestalt é alcançar este contacto profundo e autêntico; isso torna-se o alicerce de uma relação verdadeira - aquilo que claramente faltava até então.
Posted by Steve Vinay Gunther