Case #48 - A bruxa, o dinheiro e a doença


Song-li tinha tido problemas graves de saúde ao longo do último ano. Depois de várias operações, nada do ponto de vista físico tinha ajudado muito, e as coisas tinham melhorado temporariamente, para depois piorar. O aspecto psicológico era pois a próxima explicação. Ela tinha experimentado vários tipos de abordagem terapêutica em relação a este assunto... pelo que eu estava atento a não as repetir , e lhe perguntei directamente sobre que temas já se tinha debruçado. Não é bom sobrecarregar demasiadas abordagens diferentes no mesmo problema, e isso requer uma decisão profissional cautelosa. Se formos ao médico, talvez seja bom obter uma segunda opinião, mas provavelmente não 4 ou 5 - isso seria apenas confuso. Fazer um trabalho continuado no mesmo tema, com o mesmo terapeuta, pode levar a um aprofundamento, mas ´andar à pesca´pode ser contra produtivo. Posto isto, eu não quis automaticamente mergulhar directamente no assunto. Indaguei pelo contexto - o que lhe tinha acontecido há um ano quando começou a experienciar pela primeira vez os problemas de saúde. Contou-me que andava a comprar notas (de dinheiro falso) usadas na China para se queimar, geralmente como oferendas a alguém. O seu pai tinha morrido 5 anos antes, e ela andava às compras com esse intuito. Quando ela estava no acto da compra uma ´bruxa´ (palavras dela) tinha-a avisado para não comprar demasiado ou iria ficar doente. Ela tentou imediatamente devolver a compra, mas a loja não aceitou a devolução. Pouco depois, a doença ocorreu. Perguntei-lhe pela relação com o seu pai. Tinha sido próxima, sustentadora e ela pensava nele diariamente, associando-o frequentemente com elementos da sua vida, tal como o seu filho. Descobrir as circunstâncias do campo pessoal de uma pessoa pode ser importante, ao invés de ir directamente aos temas emocionais. O contexto fornece informação importante que pode ajudar a orientar a direcção da terapia. Indaguei então acerca da frequência dos pensamentos - após 5 anos, parecia-me ser um grande foco, indicador de algum tipo de assunto não concluído. Ela não conseguiu propriamente responder do que se tratava, ou sequer como se sentia quando pensava no seu pai, apesar de aparentar ser positivo. Em sessões futuras talvez pudesse entrar mais fundo na sua tomada de consciência, mas dada a clara ausência de acesso, não quis tentar sondar, e sim ficar com o que ela me apresentava. Esta é uma das formas nas quais não tratamos de romper ´resistências´ em Gestalt. Deixei-me estar por algum tempo, absorvendo aquilo que ela tinha dito. Queria utilizar as estruturas que ela já tinha disponibilizado - o dinheiro, a bruxa e a sua (quase) obsessão em pensar no pai. Propus-lhe então algum trabalho de casa - uma experiência Gestalt alargada. Sugeri-lhe que comprasse apenas uma nota desse papel moeda. Averiguei junto dela e ela tinha uma fotografia do pai guardada no computador. Disse-lhe então que todos os dias, à mesma hora, ela usasse uma tesoura para cortar um pedacinho da nota, o colocasse num queimador, ligasse o computador com a fotografia do pai, lhe pedisse que abençoasse a sua vida, e depois fechasse a fotografia. Isto é aquilo que nas terapias breves é conhecido como ´prescrever o sintoma´, e encontra o seu paralelo em Gestalt na ´Teoria Paradoxal da Mudança´. Estar presente exactamente com aquilo que existe. Ela queria mais - claramente uma extensão da sua busca agitada por mais terapia neste tópico, bem como um isomorfismo daquilo sobre o qual a bruxa a tinha avisado - i.e., não ser gananciosa em querer demasiadas ´coisas´ de valor - tal como representado pelo dinheiro. Fosse como fosse, eu notara a sua agitação, e levá-lo-ia em consideração para um trabalho posterior noutra ocasião. Ela estava de baixa médica, e perguntei-lhe como ocupava os seus dias. Ela estava por casa e basicamente dispunha de 8 horas nas quais cozinhava, descansava e saía para passear. Perguntei-lhe se tinha alguma questão social que lhe importasse, ao qual me respondeu pela negativa. Sugeri-lhe então que encontrasse um projecto de serviço que gostasse de começar e o consagrasse em nome do seu pai. Tal muda o seu simbolismo, como um trampolim para a vida e o compromisso, em vez de permanecer na doença, morte e não dedicação. Também lhe forneceu algo positivo para se focar durante o dia - algo ´pelo que viver´.

 Posted by  Steve Vinay Gunther