Case #49 - A boneca rígida e as mãos suaves


Annabelle estava angustiada, muito triste. Tinha trazido uma pequena boneca com ela, com uns bracinhos rígidos de madeira. ´Esta sou eu´, disse. ´Os meus braços são rígidos, como um Zombie. O meu coração está triste´. Revelou-me que os seus pais discutiam terrivelmente enquanto ela foi crescendo, e que isso tinha criado muito medo e insensibilidade nela. Já na sua vida adulta sentia-se demasiado dura, e queria encontrar mais suavidade. Mas a boneca mostrava o quão hirta ela se sentia. Escutei-a profundamente, e sentia o meu coração bem aberto - ela estava realmente muito triste. Ao mesmo tempo, tive um pensamente brincalhão, que parecia quase irreverente - de um zombie a andar às voltas, naquela imagem estúpida e divertida que se costuma ter dos zombies. Partilhei pois com ela tanto a minha conexão e cuidado profundo por ela como este pensamento doido e brincalhão a respeito dos zombies. Não lhe queria faltar ao respeito, mas também quis incluir esta minha outra faceta. Mostrou-se aberta a ouvir-me. Sugeri-lhe que talvez pudéssemos até brincar com isto. Então pusémo-nos de pé, lado a lado e andámos feitos zombies - em direcção às pessoas do grupo. A maior parte ria-se, gozando aquela maluquice divertida. Algumas pessoas chegaram a assustar-se, e dirigimo-nos para elas. No geral foi sobretudo uma experiência palerma e engraçada. Annabelle sentou-se, e eu sentei-me de frente para ela, atento a como estava. A experiência tinha-a amenizado, aberto-a ainda mais. Estava sentada com a sua boneca, sentindo os seus bracinhos, a falar de como eram rígidos... mas agora, se ela os esfregasse, talvez pudessem ficar mais suaves. Encarei isso como uma pista, segurei-lhe em ambos os braços com as minhas mãos e esfreguei-os suavemente. Ela agarrou-se aos meus braços com as suas mãos, como uma criança pequena em busca de comforto. Olhei-a para aferir como seria isto para ela, e pude vê-la a relaxar. Continuei a esfregar os seus braços, falando-lhe de suavidade. Podia sentir a intensidade da energia nas suas mãos. Assim, quando me disse que sentia os braços a relaxarem, coloquei as minhas mãos no meu colo, de palmas voltadas para cima, e deixei que ela esfregasse as suas mãos nas minhas, coisa que ela fez, para trás e para a frente, lentamente. Salientei quanta energia havia nas suas mãos. Ela estava profundamente conectada com o seu coração, os seus sentimentos e manteve-se em contacto comigo durante este processo. Falou de como cada uma das minhas mãos era um dos seus progenitores, separados, mas ambos presentes. Tocou em cada mão de um modo amoroso e triste. Pegou então na boneca e pôs a sua cara em cada um dos meus dedos. De seguida segurou em ambos os braços da boneca, colocou um ligado a uma das minhas mãos e o outro à minha outra mão. Disse, ´Ainda que os meus pais estejam separados, posso conectar-me com cada um deles.´ O momento foi solene, a sua tristeza colapsou e mudou de uma qualidade estagnada para uma abertura de coração, um fluir. Os seus braços estavam relaxados, e cada parte sua respirava, estava presente e conectada. Foi uma experiência marcante para ela, bem como para mim, após a a qual ela sentiu uma sensação profunda de paz e integração.

 Posted by  Steve Vinay Gunther