Case #52 - As raparigas festivas

Martin tinha tido várias relações importantes na sua vida. Com 50 anos de idade, encontrava-se agora numa relação com boa ligação emocional, mas sem filhos. Sempre se tinha sentido atraído por ´raparigas festivas´. No fim de contas, apesar de investir muito nas relações, descobriu que não as tinha conseguido fazer perdurar, até a que tinha actualmente. Agora era feliz... apesar de a sua nova companheira de facto gostar de beber e passar bons momentos de diversão. E embora ele gostasse disso, às vezes achava que era demasiado, e frequentemente queria ir-se embora de um encontro mais cedo que ela. Assim, de vez em quando dava por si a beber um pouco mais do que queria. Quanto toca a coisas como álcool e padrões de relação, é bom olhar para o panorama geral. Aquilo a que chamamos o Campo, em Gestalt. Em constelações familiares lida-se com istoo tempo todo, mas há diversas formas de lidar com esta dimensão. Na terapia individual, há algumas zonas em que existe uma forte indicação ara prestar atenção a um contexto mais alargado. Perguntei-lhe então pelos seus pais e avós. Os seus pais davam-se muito bem. Ao que parece a sua avó paterna tinha sido uma mulher bastante aventureira para a sua época. Tinha viajado e casado tarde. Era uma pessoa popular socialmente, mas nem sempre presente como mãe. Assim, a sua experiência de parentalidade vinha mais da parte do pai, que era o elemento estável. Martin nunca tinha unido estes pontos, mas tornou-se claro para ele esta sua atracção por mulheres com com muita vitalidade mas instáveis. A tarefa que se punha era então mover-se para o presente. Preparei uma cadeira a representar a ´rapariga festiva´, e pedi-lhe que contactasse com os seus sentimentos. Eram mistos - atracção, mas também dor, por causa do seu historial de relações. Perguntei-lhe sobre o que se activava nele quando se via sentado diante deste tipo de mulher. Deu-se conta de diversas coisas - a sua excitação, a sua raiva e um sensação de vazio. Pedi-lhe que identificasse em que zona do corpo sentia tudo isto. Ele notou uma sensação de congestão no peito. Contou-me que era exactamente o que sentia quando a sua companheira começava a beber demasiado - uma espécie de pânico ou medo. Geralmente, nessas alturas ou a censurava, ou não dizia nada, e ficava ressentido. Pedi-lhe então que se deixasse estar com esse sentimento, e que que lhe dissesse algo a ela, sentada na cadeira. Foi-lhe muito difícil fazê-lo - sentia-se muito desconfortável, e disse-mo. Pedi-lhe então que trocasse, se sentasse na cadeira e falasse como se fosse a sua companheira. Nessa posição, sentia-se rebelde, não queria que lhe dissessem o que fazer e disse ´se gostasses de mim, davas-me liberdade, em vez de tentares controlar-me´. Isto era de alguma forma algo familiar para Martin - tinha-a ouvido dizer coisas parecidas. Pedi-lhe que se sentasse ao pé de mim noamente, e indaguei a respeito da parte dele que era rebelde. Em Gestalt estamos interessados em polaridades, especialmente aquelas das quais não nos apropriamos e associamos frequentemente com o nosso parceiro. Não estava habituado a pensar dessa maneira - era sempre a sua companheira quem era a rebelde. Identificou como no seu emprego aturava o comportamento super controlador do seu chefe e nunca dizia nada. Sugeri-lhe pois que sentasse o seu chefe na cadeira e lhe dissesse algo rebelde. Ao fazê-lo, sentiu muita liberdade, e saiu-lhe um peso de cima. Repetimos este processo para diversos cenários da sua vida, e a cada vez, descobriu um enorme alivio em poder dizer algo rebelde - ele era o típico ´bom rapaz´. Senti-se muito mais forte e empoderado. Isto foi apenas um passo, numa série de sessões terapêuticas, mas realça a forma na qual o nosso self projectado - numa outra pessoa - estanca a energia que poderia na realidade ser-nos útil para encontrar maior equilíbrio e vitalidade - que são resumidamente os objectivos em Gestalt.
Posted by Steve Vinay Gunther