Case #56 - A menina necessita atenção

Wendy falou-me a respeito de querer um companheiro. Estava divorciada e geria uma empresa. Contou-me a quão impaciente era para com os seus empregados, de como era muito eficiente e nunca mostrava a sua vulnerabilidade. Contrastou tudo isto com a paciência que reconhecia em mim. Debati temas de poder com ela - a capacidade de ser eficiente e directa, o prazer de estar no controlo, ser a chefe. Parecia muito acanhada enquanto eu falava, remexendo as mãos... fazia-me lembrar uma menina. Perguntei-lhe a idade que sentia ter - disse-me 10 anos, e então indaguei a respeito do que lhe tinha acontecido nessa idade. Perguntei-lhe sobre paciência na sua família. O pai tiha-a esbofeteado quando ela tinha 10 anos porque as suas notas na escola tinham descido. De facto, ele batia regularmente no seu irmão mais novo. Mas em público, era um homem paciente, que tinha tempo para dedicar às pessoas. Chamei a atenção para o facto da paciência que ela via em mim como terapeuta a poder deixar desconfiada pois a questão que se punha era: será que eu iria explodir como o seu pai? Ela concordou. Disse-me que o problema era que ela não tinha muita confiança nos homens. O seu primeiro marido também era impaciente com ela, apenas interessado naquilo que ela poderia fazer por ele. Disse-me que apenas queria encontrar outro companheiro. Revelou-me que a razão pela qual as suas notas tinham descido era porque estava num colégio interno, no qual era vítima de abusos, muito frequentes e maldosos. Os seus pais não sabiam disso, além de não se interessarem. Ela sentia-se muito sozinha. Sentei-me perto dela, falei com ela, reconhecendo a sua sensibilidade, a sua vulnerabilidade, e a sua necessidade, enquanto criança, de ser vista como a pessoa que era, ao invés de fazer parte dos planos que tinham para ela. Alguém que se interessasse pelos seus problemas, em vez de apenas querer saber das sua notas. Começou a chorar, suavizando-se ainda mais. Declarei-lhe o meu interesse nela, sem segundas intenções de querer que ela fosse uma pessoa diferente. Parecia faminta por este tipo de atenção, e deixámo-nos estar sentados por algum tempo, enquanto eu a encorajava a absorver esta experiência. Salientei que esta parte sua necessitava cuidado, atenção, e crescer de uma forma natural, antes de ela desenvolver um núcleo mais forte com o qual estar numa relação. Em Gestalt não nos deixamos levar simplestemente pelo tema que o cliente nos apresenta - o que também é importante é aquilo que eu me dou conta como terapeuta - algo com o qual o cliente pode não estar de todo em contacto. Trazemos então isso completamente para a tomada de consciência no presente, e exploramos o contexto - geralmente a família, mas nem sempre. Essa informação do Campo é então trazida de volta ao momento presente, e à relação terapêutica. Fazer isto fornece neste caso uma agenda terapêutica clara, um processo pelo qual pudémos continuar a trabalhar no tema inicialmente apresentado por ela - querer um outro companheiro.
Posted by Steve Vinay Gunther