Case #57 - Convite à conspiração
Assim que Annabelle começou a falar fiquei com um sentimento desconfortável. Claramente ela queria contar a sua ´história´, de como tinha sido enganada de diversas formas, como tinha valentemente tratado de ajudar outras pessoas na família, etc. Dei por mim a sentir-me impaciente, e sem querer realmente escutá-la. Podia ver que ela falava sem parar, preenchia o espaço, sem realmente dar lugar a uma intervenção - parecia querer apenas queixar-se. Passado um bocado, fez-me uma pergunta relacionada com a história. Uma vez mais eu senti-me incómodo, pois ela parecia ter muitas perguntas... mas queria-me como uma espécie de um especialista para resolver a sua situação. No entanto, não disse nada a respeito dos meus sentimentos. Conversei com ela, mas recusei responder a todas as suas perguntas, pedindo-lhe em vez disso que as transformasse em afirmações. Isto é uma indicação comum em Gestalt, pois muitas vezes as perguntas são uma forma de evitar a responsabilidade, ou assumir-se numa relação. As afirmações permitem à pessoa apropriar-se de quem é, o que sente e o que quer, de uma maneira mais directa. Não disse nada, pois podia sentir as minhas próprias reacções, e queria entender-me melhor naquele local onde me encontrava. Sentei-me com os meus sentimentos, e entrei em contacto com o que estava a ser a minha experiência. De cada vez que Annabelle falava, era da mesma forma, e eu tinha as mesmas reacções, incluindo pedir-lhe para fazer afirmações. Pelo menos isso eu podia fazer para interromper o padrão, e não queria ser arrastado para o papel que ela me oferecia - o de grande sábio. No entanto, isso foi o sufieciente para a deixar curiosa. Colocá-la de volta na sua própria experiência ofereceu-lhe um tipo de experiência diferente, e por eu tê-lo feito de um modo neutral, ela foi capaz de começar a notar os seus sentimentos um pouco mais. Estava a debater sobre autenticidade. De repente ela disse - ´Quero um feedback honesto da tua parte, como me vês?´ Respirei fundo, pois aqui estava uma abertura para aprofundar a relação, mas também tinha que prosseguir com cautela uma vez que notei a sensibilidade que esta pergunta comportava. Com esta pergunta estava disposto a comprometer-me, pois parecia-me mais autêntica. E como me tinha sentado com a minha própria experiência por algum tempo na companhia dela, pude nomear algo, não directamente sobre ela, mas sobre a minha experiência pessoal. Disse-lhe - ´De cada vez que falas, eu experiencio um convite para ser conspiratório... sinto-me arrastado a concordar contigo, a confirmar a visão que tens da tua família e de como tens sido tratada. E isso deixa-me desconfortável, pois não te quero rejeitar, nem juntar-me a ti.' O que fiz foi nomear a minha experiência pessoal autêntica de um modo que lhe deixou espaço a encontrar-se a si própria em resposta. Foi a minha tentativa de uma afirmação que não a envergonhasse - muito importante ao dar feedback. Annabelle abriu-se num sorriso. Disse - ´Obrigado. Outras pessoas já me tinham dito o mesmo, mas nenhuma tão claramente como tu. Eu sei a que te referes. Sinto como se estivesse a tentar pôr as pessoas do meu lado.´ Tivémos então um diálogo autêntico muito valioso. Salientei que havia outros aspectos de ser conspiratório - podia ser algo divertido, como às vezes as crianças costumam brincar. Explorámos diversas facetas da conspiração, e Annabelle relaxou visivelmente, bem como eu! Houve um câmbio na minha experiencia... depois de ser capaz de nomear a minha experiência. Ela experienciou ser vista. É este o contacto Eu-Tu que buscamos em Gestalt, e é a base para a o aprofundamento da relação.
Posted by Steve Vinay Gunther