Case #73 - Os meus sentimentos ou os teus sentimentos?


Martha descreveu a sua dificuldade em contactar com os seus sentimentos. Era counsellor, mas era sobretudo uma pessoa muito mental. Foquei-me primeiro no aqui e agora entre nós. Como era para ela sentar-se comigo, o que sentia durante o nosso contacto. A cada questão que colocava a Martha, também partilhava os meus próprios sentimentos. De seguida pedi-lhe que olhasse a sala em redor, para cada pessoa, que notasse a reacção do seu sentir e como diferia. Por fim, convidei-a a olhar para mim, e permiti-lhe que visse parte do meu mundo interno - passei a ´modo cliente` durante cerca de um minuto, saindo do meu modo ´dador, encarregado, profissional´. Não demorou muito a notar - disse-me ´oh, estás triste´. Salientei que o que era importante era o que ela estava a sentir - a sua tristeza como resposta. Ela podia então confirmar comigo e perguntar-me pela minha experiência. Ela tinha razão neste caso, mas é importante não presumir. As pessoas têm a noção equivocada que podem ´sentir os sentimentos de outra pessoa´. Em Gestalt discordamos - sentimos sempre os nosos próprios sentimentos - mas a fronteira é importante. Apenas podemos imaginar os sentimentos de outrem, e indagar pela confirmação. Assumir que ´sabemos´ é desrespeitoso e não ajuda. Em termos mais clássicos usamos a palavra ´projecção´para descrever o que acontece. Não podemos de todo sentir os sentimentos de outra pessoa - eles ocorrem no corpo de outrem, e nós não estamos nesse corpo. Os nossos próprios sentimentos podem estar em ressonância, mas pertencem-nos. Neste sentido, a projecção descreve a nossa habilidade em IMAGINAR os sentimentos de outra pessoa, usando os nossos próprios como guia. Isto ajuda-nos a orientarmo-nos no mundo, relacionarmo-nos, e descobrir (potencialmente) que estamos em sintonia com os outros. Mas é somente quando conferimos estas coisas que podemos confirmar se as nossas projecções eram certeiras ou não. Daí a precisão da linguagem ser considerada importante em Gestalt, uma vez que nos permite ter estas conversas, averiguar, dialogar, testar as nossas percepções. Isto equipa-nos com uma linguagem de comunicação acerca das emoções que é clara e rica no contacto, ao invés de ser confusa e pretenciosa.

 Posted by  Steve Vinay Gunther