Case #75 - Deixando cair os "deverias"


Brigitte apresentou um conflicto que tinha com o seu marido com quem estava casada há 18 anos. Ela queria que os pais dela viessem morar com eles, e ele não queria. Convidei-a então para o diálogo clássico em Gestalt, usando duas almofadas, uma para ela, outra para o seu marido. Ao longo da ´conversa´ ela fez duas afirmações. A primeira era sentir-se culpada por se encontrarem ambos numa situação familiar feliz, mas não terem os pais presentes. A segunda era que eles deveriam tomar em consideração as necessidades dos pais dela. Peguei na culpa - uma vez que geralmente está a disfarçar um ´deveria`. Certamente, este ´deveria` era ´Eu não deveria ser mais feliz que os meus pais´. Pedi-lhe então para pôr este ´deveria` na almofada, e seguiu-se uma conversa. O ´deveria`pregando-lhe um sermão acerca de ser boa para os seus pais. A sua resposta foi de zanga - não me digas como viver a minha vida. Pedi-lhe que se movesse de um lado para o outro na conversa. A dada altura, como que colapsou - disse ´ok` ao ´deveria`. Mas isto não era uma verdadeira capitulação, pelo que identificámos o sucedido e eu encorajei-a a prosseguir. Foi então que ela teve um flash - quando tinha 5 anos e a sua mãe lhe estava a dar de comer, esta disse-lhe, ´um dia quando fores mais velha tomarás tu conta de mim´. Pedi-lhe pois que falasse com esta afirmação da sua mãe, mas da sua posição de agora, como uma mulher de 43 anos. Disse - Eu sou a tua filha, não a tua mãe. Não é que eu deva tomar conta de ti, isso não é bem assim. Ela foi bem clara neste ponto. Algo se tranquilizou nela, aquilo a que chamamos ´integração´- quando um insight, juntamente com uma experiência vivida no corpo e uma mudança na energia se tornam unos. Isto clarificou o ´deveria´ de um modo que levou àquilo a que chamamos ´digestão`, isto é, ficar com o que é nutritivo e deixar o resto. Os ´deverias` são crenças não digeridas que trazemos connosco, vindas dos pais ou da sociedade. Podem conter valor ou verdade em si, mas precisam de ser processados para descobrir o que serve a cada um de nós. De outro modo, continuarão a governar - consciente ou insconscientemente, de um modo tirânico. Deixamos de ouvir estas mensagens como vindas do exterior - interiorizámo-las, introjectámo-las. Assim, em Gestalt, reanalizamo-las, para as actualizar.

 Posted by  Steve Vinay Gunther